sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O povo diz...

"Nem tudo é o que parece ser!"

AS DUAS FALÁCIAS MAIS COMUNS
As falácias são erros, incorreções em argumentos. Muitas delas são tão tentadoras e, portanto, tão comuns que até têm nomes próprios. (…) Dizermos que algo é uma falácia é apenas outra forma de dizermos que uma das regras dos bons argumentos foi violada.
Um dos nossos erros mais comuns é tirarmos conclusões a partir de dados insuficientes. Se o primeiro lituano que encontrarmos for irascível, criamos a expectativa de que todos os lituanos serão irascíveis. Quando um navio desaparece no triângulo das Bermudas, os jornais sensacionalistas concluem que o triângulo das Bermudas está assombrado. Esta é a falácia da generalização a partir de informação incompleta.
Não generalize excessivamente a partir do facto de ter encontrado uma causa: pode haver outras causas mais prováveis. Outra falácia comum consiste em ignorar alternativas. (…) Só porque os acontecimentos A e B estão correlacionados não se segue que A cause B. B pode causar A; qualquer outra coisa pode causar ambos, A e B; A pode causar B e B pode causar A; ou A e B podem nem sequer estar relacionados. Estas explicações alternativas podem até ser ignoradas se aceitar a primeira explicação que lhe ocorre. Não tenha pressa; em geral, há muitas mais explicações alternativas do que pensa. (…)
Acontece também que muitas vezes ignoramos alternativas quando estamos a tentar tomar decisões. Duas ou três opções podem sobressair e só a essas damos atenção. No seu famoso ensaio "O existencialismo é um humanismo", o filósofo Jean-Paul Sartre conta que um aluno seu, durante a ocupação da França pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, teve de escolher entre fazer uma viagem arriscada à Inglaterra para lutar com a França Livre e permanecer com a mãe em Paris para tomar conta dela. Sartre pinta o quadro como se o jovem tivesse de arriscar tudo numa viagem à Inglaterra e, assim, abandonar totalmente a mãe ou então de dedicar-se completamente a ela e desistir de toda e qualquer esperança de combater os nazis. Mas há certamente outras possibilidades. Ele poderia ficar com a mãe e mesmo assim trabalhar para a França Livre em Paris; ou poderia ficar com a mãe durante um ano e tentar garantir-lhe boas condições, tornando gradualmente possível a sua viagem à Inglaterra. E devemos acreditar que a mãe era completamente dependente e avidamente egoísta ou, pelo contrário, um pouco patriota e possivelmente também autossuficiente? É muito provável, pois, que existam outras opções.

A. Weston, A Arte de Argumentar, Gradiva, 1996, pp. 106-109.



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