AS DUAS FALÁCIAS MAIS COMUNS
As falácias são erros,
incorreções em argumentos. Muitas delas são tão tentadoras e, portanto, tão
comuns que até têm nomes próprios. (…) Dizermos que algo é uma falácia é apenas
outra forma de dizermos que uma das regras dos bons argumentos foi violada.
Um dos nossos erros
mais comuns é tirarmos conclusões a partir de dados insuficientes. Se o
primeiro lituano que encontrarmos for irascível, criamos a expectativa de que
todos os lituanos serão irascíveis. Quando um navio desaparece no triângulo das
Bermudas, os jornais sensacionalistas concluem que o triângulo das Bermudas
está assombrado. Esta é a falácia da generalização a partir de informação incompleta.
Não generalize
excessivamente a partir do facto de ter encontrado uma causa: pode haver outras
causas mais prováveis. Outra falácia comum consiste em ignorar alternativas. (…)
Só porque os acontecimentos A e B estão correlacionados não se segue que A
cause B. B pode causar A; qualquer outra coisa pode causar ambos, A e B; A pode
causar B e B pode causar A; ou A e B podem nem sequer estar relacionados. Estas
explicações alternativas podem até ser ignoradas se aceitar a primeira
explicação que lhe ocorre. Não tenha pressa; em geral, há muitas mais explicações
alternativas do que pensa. (…)
Acontece também que
muitas vezes ignoramos alternativas quando estamos a tentar tomar decisões.
Duas ou três opções podem sobressair e só a essas damos atenção. No seu famoso
ensaio "O existencialismo é um humanismo", o filósofo Jean-Paul
Sartre conta que um aluno seu, durante a ocupação da França pelos nazis na
Segunda Guerra Mundial, teve de escolher entre fazer uma viagem arriscada à
Inglaterra para lutar com a França Livre e permanecer com a mãe em Paris para
tomar conta dela. Sartre pinta o quadro como se o jovem tivesse de arriscar tudo
numa viagem à Inglaterra e, assim, abandonar totalmente a mãe ou então de
dedicar-se completamente a ela e desistir de toda e qualquer esperança de combater
os nazis. Mas há certamente outras possibilidades. Ele poderia ficar com a mãe
e mesmo assim trabalhar para a França Livre em Paris; ou poderia ficar com a
mãe durante um ano e tentar garantir-lhe boas condições, tornando gradualmente possível
a sua viagem à Inglaterra. E devemos acreditar que a mãe era completamente
dependente e avidamente egoísta ou, pelo contrário, um pouco patriota e
possivelmente também autossuficiente? É muito provável, pois, que existam
outras opções.
A. Weston, A Arte de
Argumentar,
Gradiva, 1996, pp. 106-109.
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