Em março deste ano, o professor de mídia e comunicações da Karlstad University (Suécia), Christer Clerwall, falou sobre seu trabalho de pesquisa com 46 alunos da graduação de jornalismo, que avaliaram textos escritos por jornalistas e robôs. O profissional aposta que, num futuro próximo, conteúdos noticiosos poderão ser feitos de maneira automática por meio de equipamentos eletrônicos. Na época do estudo, o resultado descreveu as matérias feitas pelo software como informativa, precisa, confiável e objetiva.
O colunista acredita que os aplicativos para dispositivos móveis estarão entre as principais formas de consumo de notícia em breve. "Se você trabalha nesse espaço, saiba que esses aparelhos vão se tornar parte do cenário cada vez mais. E, se a sua ideia é atender esse público com as suas informações, estude programação para essas plataformas. Além disso, use os dados a favor do seu conteúdo".
Para Howard, a maneira como o jornalista usa os dados para contar suas histórias é o que vai diferenciar o profissional de um algoritmo. Sobre o assunto, ele falou por longo período e afirmou que, ao pensar em jornalismo de dados, não é possível esquecer a história. "Isso é usado há séculos. Os romanos trocavam informações com dados sobre produtos e preços. Podemos dizer que o jornalismo de dados é o nosso presente".
O profissional do TechRepublic acredita que o modelo é uma forma de ver por outros ângulos o que acontece no mundo. "Os dados nos dizem algo. Há muitos exemplos de como isso é feito e impacta a sociedade. Você precisa analisar, contextualizar e publicar esse material. Essas novas ferramentas significam que temos que pensar em boas práticas. Mas, para fazer esse trabalho, é preciso entender o conteúdo e como lidar com números, pois, se apresentados erroneamente, podem passar informações que não condizem com a realidade", ressaltou. Quanto mais dados o repórter puder coletar, mais preciso será o retrato inserido na matéria, explicou o colunista. Questionado sobre a formação dos novos jornalistas, Howard concorda que as instituições precisam dar ferramentas para que o profissional entenda como trabalhar com esse modelo. "Tem que estar no currículo das escolas de comunicação, pois esse conhecimento pode gerar furo de reportagem".
Doutor em cultura e professor do departamento de comunicação da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fábio Malini também participou do evento e apontou a existência de um "desencaixe" entre o que vê nos laboratórios e nas salas de aula. "Os alunos de jornalismo acreditam que são fundamentalmente narradores de histórias. Em geral, pensam no papel dos dados de maneira marginal à própria narrativa. Então, esses conhecimentos, em vez de servirem como potencializadores, são inicialmente recusados nas salas de aula", relatou.
Malini explicou que inserir novas práticas e ferramentas a partir das metodologias é essencial e que isso não significa que todo jornalista precisa ser programador, mas que tem de aproveitar o fomento das experimentações. "Precisamos compreender minimamente como funcionam os bancos de dados". O professor afirmou que o processo passa pela abertura que os estudantes terão em narrar histórias de maneiras diferentes e alertou para o "preço desse trabalho". "Evidente que é caro, mas se vocês (alunos) começarem a praticar na universidade, naturalmente vão encontrar profissionais que podem auxiliar nesse trabalho conjunto".
Com o apoio do Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, o evento realizado na Cásper Líbero contou, ainda, com a presença dos entrevistadores Renato Rovai (revista Fórum), Rafael Fonseca (professor da Anhembi Morumbi e do Mackenzie), Beth Saad (professora da ECA-USP) e Leonardo Sakamoto (jornalista e doutor em Ciência Política pela USP).
Evento realizado na Cásper Líbero discutiu jornalismo de dados (Imagem: Ricardo Nobrega)
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