Os brinquedos ainda fazem parte do Natal dos mais pequenos. Mas, há pais que equilibram os presentes com princípios morais.
O Natal está mesmo quase e as crianças decoraram há muito o nome do carro ou da boneca que querem. Os pais ficam com a tarefa de encontrar o “tal” brinquedo para mais uma época que querem memorável, pelo menos para os mais pequenos. Presentear é uma tradição e se a crise económica a veio quebrar, numa tendência minimalista forçada, há um lado do Natal que pode ser explorado, o dos valores e da partilha. Mas as crianças querem mesmo saber de questões morais?
Caleb, 11 anos, Davis, 8, e Beckham, 5, filhos de Lisa e John Henderson não vão receber prendas este Natal. “Os nossos filhos têm sido ingratos. Esperam sempre muito, mesmo quando o seu comportamento é desrespeitoso. Avisámos, ou o comportamento mudava ou haveria consequências. Trabalhamos pacientemente com eles durante vários meses e adivinhem, muito pouco mudou”, contou Lisa no seu blogue Over the Big Moon.
Numa troca de comentários com leitores do seu blogue, que consideraram a medida excessiva, Lisa lamentou que os “pais pareçam estar mais preocupados com o que os seus filhos pensam de si do que em torná-los futuros membros da sociedade”. A mãe está mais preocupada que os filhos “compreendam que comportamento e escolhas importam”. “Quero que tenham consciência dos outros e de como são abençoados”.
Esta consciência parece estar presente em Leonor, 9 anos, que este Natal tem grandes hipóteses de receber entre as “enciclopédias, qualquer coisa da Sience4You e Lego Friends”, que pediu. “Tem a ver com as notas da escola e com o seu comportamento”, conta a mãe Sandra Correia, gestora de contas. “Geralmente pode fazer uma lista com três a cinco brinquedos. Ela tem noção do esforço financeiro que implica o Natal”. Ao receber o que pede, os pais querem que Leonor saiba que é “merecedora do que ganha”.
Nesta altura, Leonor é “mais solidária”, diz Sandra. “Na escola fazem sempre imensas acções de voluntariado associadas a esta época, em que ela participa. Os meus pais têm uma formação católica e passaram esse espírito para a Leonor. Somos uma família com muita tradição de Natal”.
Os pais de Manuel, 9 anos, Micaela Neto, fotojornalista, e Carlos Moreira, técnico de informática, afirmam que o filho “não tem tudo o que quer”. "Conversamos muito com ele sobre isso e não é tarefa fácil, porque existem sempre amigos que têm tudo”, conta a mãe de uma família que já adoptou uma “postura mais minimalista de consumo no Natal”. “Mas podemos fazer sempre melhor”, acredita Micaela.
Micaela e Carlos condicionam os pedidos de Manuel de “maneira a não pedir uma coisa cara”, até porque há ainda uma irmã de 3 anos. Também a quantidade de prendas tem regras. O Manuel recebe uma prenda do Pai Natal, mais um pequeno presente dos pais. Avós e tios juntam-se por vezes para comprar uma prenda melhor e na casa dos avós maternos junta-se ao “sorteio do amigo secreto”, no qual Manuel participa ao receber e dar uma prenda comprada com o seu dinheiro.
Minimalismo para recuperar valores
Joshua Becker e a mulher optaram por uma vida com pouco. Limparam a casa em que vivem no Arizona, EUA, e doaram o que foi possível. A experiência levou-o a escrever livros e a criar o site Becoming Minimalist. A visão de Becker sobre o Natal é partilhada com o PÚBLICO num email onde afirma que “parece haver um aumento da filosofia minimalista no mundo”, incluindo com o “aumento da ‘economia de partilha’”.
Becker não contesta o acto de dar presentes, mas a forma. “Ao darmos presentes conseguimos comunicar o nosso amor, apreço ou gratidão. Esta é uma prática que encontramos em toda a história humana. Infelizmente, essa prática de troca de presentes tornou-se tão comercializada que começou a perder o seu significado”.
Critica ainda os dias impostos para presentear. “O acto de oferecer deve marcar a nossa atitude na vida e não apenas a prática de épocas específicas. Muitas vezes, o maior presente que podemos dar é o nosso tempo, atenção e amor”. A filosofia de Becker é posta em prática com os dois filhos, de 8 e 11 anos, que recebem “uma coisa que querem, uma coisa que precisam e uma experiência que podem partilhar com a família”.
O pediatra Mário Cordeiro é também defensor do equilíbrio e que se “deve ser frugal e contido nos presentes, não apenas pela crise, mas porque dar um presente é isso: dizer a alguém que ‘estamos presentes’ na vida dessa pessoa cada vez que ela usar ou olhar para o que ofertámos”.
Mário Cordeiro não tem dúvidas que o “excesso de brinquedos é contraproducente, porque deixa de se dar o valor específico de cada um”. “É importante mudarmos o paradigma e essa mudança começa nas gerações mais novas: frugalidade, ou seja, poder ter, sim, mas ter apenas aquilo que é necessário, importante e ao qual se dá uso”, reforça.
fonte:http://www.publico.pt/portugal/noticia/e-se-no-natal-as-criancas-recebessem-mais-valores-e-menos-prendas-1680225
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