quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

“Sinto que já me falta tempo"


Entrevista ao Prof. Doutor Jorge Sequeira

 Docente Universitário
 
Motivational Speaker
 
 Investigador
 
 Comentador Televisivo
 
Empresário
 
Consultor
 
 Autor



Jornalista: Maria de Fátima Teixeira


“Sinto que já me falta tempo”

Professor Jorge Sequeira, licenciado em psicologia, participante no desenvolvimento comportamental de várias empresas, como o Carrefour, Efacec, EDP, Sonae, Worten, Zurich e Pepsi, entre outras. Com grande destaque nas áreas da Inteligência Emocional, Resiliência, Gestão do Talento, Liderança, Motivação e Condução de Equipas. É docente universitário com Doutoramento no Treino de Competências Mentais. Fundou a empresa Team Building e é autor de várias crónicas e artigos científicos. No contexto desportivo, fez parte da equipa técnica do S.C. de Braga, é ainda professor de ilustres figuras como José Mourinho, assim como comentador na TVI e no Porto Canal.

Maria de Fátima Vasconcelos Teixeira (M.T.): Como é que o professor decide os assuntos que comenta? Qual é o processo de seleção?

Jorge Sequeira (J.S.): Primeiro tento comentar aquilo que está na atualidade, essa é uma possibilidade. A outra possibilidade é exatamente o inverso: falar daquilo que ninguém falou. Determinados assuntos já estão tão poluídos como, por exemplo, a detenção de José Sócrates, que eu procuro falar sobre coisas absolutamente diferentes, tais como a droga ou o divórcio. Isto é, qualquer coisa relacionada com um assunto completamente diferente, de forma a “descontaminar”. Este é um dos critérios. Eu não posso fugir à atualidade até porque seria uma coisa esquizofrénica. Se Portugal estiver a arder, então, não vou falar de um fora de jogo em Alvalade. Falo de coisas de interesse geral. Por exemplo, como psicólogo, a ansiedade é um tema que pode interessar às pessoas, ou a autoconfiança, por exemplo. São temas intemporais. As pessoas têm curiosidade em saber mais sobre eles independentemente do tempo, seja hoje, amanhã ou daqui a 15 dias.

M.T.: O professor Jorge Sequeira é licenciado em Psicologia. O que é que o levou a tornar-se comentador?

J.S.: O que me levou a tornar-me comentador foi o facto de as pessoas acharem que a minha opinião era interessante e que acrescentava valor, podendo fazer alguma diferença. Sem que isto represente qualquer pretensiosismo. As pessoas consideravam relevante o que eu dizia, enfim, porque para além da licenciatura, fiz um doutoramento, estou envolvido em muita coisa, tenho uma empresa, etc. Mas quem decide isso são as pessoas que me ouvem. Se eu não tiver audiência, então não faço sentido.

M.T.: Ser comentador, foi algo que sempre quis fazer?

J.S.: Não! Eu queria ser bombeiro ou aquelas outras coisas todas que os putos sonham fazer um dia. Agora, como tenho uma visão muito crítica – o que não significa criticar negativamente, pelo contrário, gosto de refletir acerca do mundo que me circunda –, essa hipótese acabou por surgir. Antes fazia isso no café, em universidades e fóruns, agora faço-o em televisão e nos jornais.

M.T.: Até à data qual foi o seu maior desafio?

J.S.: O meu maior desafio…foram muitos! Foi, por exemplo, trabalhar com uma equipa de profissionais de futebol, neste caso o Sporting Clube de Braga. Uma equipa que estava para descer de divisão e que, passados três anos, tornou-se numa das mais competitivas de Portugal.

M.T.: Neste caso, leva-me a pensar que faria um pouco de coaching?

J.S.: É melhor não usarmos essa expressão. Anda aí muito “coaching” que são “gajos” que fazem cursos de meia dúzia de horas e que pensam que sabem tudo. Eu prestava assessoria ao professor Jesualdo Ferreira, e também aos jogadores, na área comportamental. Ou seja, em questões relacionadas, por exemplo, com a motivação, a confiança, a liderança, a gestão emocional ou controlo de ansiedade, entre outras dimensões psicológicas.

M.T.: O professor, para além de comentador, já deu formação. Qual destas atividades foi a que mais o realizou?

J.S.: As palestras! Para mim, a formação é uma coisa mais para a “escolita”. As palestras são o que me dá mais gozo. É o que me dá mais adrenalina, mais “pica”, ansiedade antes de entrar no palco. Trabalho com as melhores empresas do mundo como a Pepsi, a EDP, a Galp ou a Fujitsu, e sentir que podemos melhorar ainda mais organizações que já estão no top é deveras gratificante.

M.T.: Para além de todas estas áreas o professor também é head manager da empresa  Team  Building . Como é que divide o seu tempo de forma a conciliar todas estas atividades?

J.S.: Eu não sou daqueles que diz que trabalha muito, que não dorme…coitadinho de mim! De todas as atividades em que me envolvo dão-me todas gozo, realizo-as com entusiasmo. Ouve alguém que disse: “faz o que gostas e não trabalharás um único dia na tua vida”. De facto, é isto que acontece! Estou simplesmente a pensar que hoje vai ser um dia “brutal”, que vou adorar e espero que os outros também gostem. Concilio tudo na “boa” porque não encaro como uma exigência. É prazer! Eu agora vou para Lisboa e depois para o Algarve, mas não vou trabalhar! Sim, vou ganhar dinheiro, mas vou fazer o que gosto, aquilo que sempre estudei, aquilo em que sempre investi, aquilo que eu acho que pode mudar a vida das pessoas…para melhor claro!

M.T.: O que o motiva a manter-se ativo em todas estas atividades?

J.S.: Mudar vidas e a minha também. Melhoria contínua! Às vezes vou a um sítio e, em vez de ensinar, acabo por aprender. Por exemplo, hoje vou trabalhar com a Bosch, uma das maiores empresas do mundo. A Bosch investiu vinte mil milhões de euros nos últimos cinco anos. Regista vinte patentes por dia e está presente em noventa e três países. Estou convicto de que me vou capacitar mais com eles do que eles comigo.

M.T.: Como é comentar para o Porto Canal e ser reconhecido?

J.S.: É “fixe”! Primeiro porque adoro aquela equipa, superiormente liderada pelo Júlio Magalhães, com quem eu tenho uma rúbrica semanal. Eu gosto de ser reconhecido, claro, e agora até não sou muito…quando estive na TVI era mais. Contudo, eu não existo para aparecer, apareço porque existo! É quase como um blog televisionado: pensamos sobre as coisas e sobre a vida e depois partilhamos isso com milhares de pessoas. A televisão permite-nos isso e o Porto Canal é “porreiro” e atencioso…não tem a mania que é o melhor do mundo! Tem grandes profissionais e, não tendo os recursos que os outros têm, consegue fazer coisas excecionais. É muito bom!

M.T.: Dos temas que já comentou, qual foi o que mais o marcou?

J.S.: Vou falar de um que ainda não comentei, vou fazê-lo na próxima semana. Refiro-me ao assassinato da namorada do jornalista Fernando Santos, da Sport TV. O caso foi noticiado em todo o país, e eu conhecia a vítima. A sua morte ocorreu há cinco anos e a justiça não conseguiu desvendar o mistério. Incrivelmente, a pessoa que assassinou a Alexandra Neno entregou-se há quinze dias atrás, pois não conseguia viver com esse conflito mental. Vivi de perto um pouco do drama, neste caso do namorado, que, como imagina, viveu durante cinco anos com esta dúvida sobre quem é a matou e por que o fez. É uma situação desesperante.

M.T.: Se pudesse mudar alguma coisa no seu percurso profissional o que seria?

J.S.: Tinha feito tudo um bocadinho mais cedo. Eu acho que sou muito lento. Demorei sete anos a fazer uma tese de doutoramento, se demorasse quatro teria sido melhor. Sou bastante perfecionista, não que perfeccionista queira dizer que seja perfeito, e até acho que não sou. Demoro muito tempo! Devia ter feito as coisas mais rápido. Sinto que já me falta tempo! Mas, de resto, acho que estou no caminho certo. Fiz o curso que quis, o mundo empresarial também me fascina. Não trabalho propriamente para a comunicação social, é um hobbie que me agrada. As palestras surgiram na minha vida quase por acaso. Hoje é o meu trabalho, quase inventei esta profissão!

M.T.: Na sua opinião, o que lhe falta fazer?

J.S.: Um livro decente, que não seja um catecismo. Quero algo do qual me orgulhe, que não seja mais do mesmo, que não seja uma “treta”. Escrevo para chegar ao livro que vá nessa linha, algo que crie impacto, nem que seja para as pessoas não gostarem ou até odiarem. Mas que não seja uma coisa “choca”. É essa a ideia…

M.T.: Quais são os seus planos para o futuro?

J.S.: Conhecer todos os países do mundo. Já conheço cento e sete países e essa é a minha grande ambição de facto! São cento e noventa e quatro, faltam cerca de oitenta e tal, e todos os anos vou para o fim do mundo, desde os Himalaias até à Cordilheira dos Andes. É a meta da minha vida, sem dúvida o meu maior desígnio.

Sem comentários:

Enviar um comentário